N.03 Bárbara Assis Pacheco
por   Joana Linda

“Sempre romanceei muito e idealizei essa coisa de voltar ao paraíso perdido” – Bárbara Assis Pacheco

Esta terceira edição apresenta a artista Bárbara Assis Pacheco, que segundo a própria faz “desenhos e coisas”. Apesar de não se definir enquanto ilustradora ou pintora parece não se conseguir desassociar do universo dos seus desenhos. A sua obra circunda entre plantas, animais, piscinas, e os mundos tropicais que a fascinam. 

Este vídeo-retrato é uma viagem ao mundo interior de Bárbara Assis Pacheco, um mundo onde as regras impostas pela contemporaneidade são subvertidas. Através do olhar de Joana Linda teremos a oportunidade de conhecer a leveza, liberdade e espontaneidade desta artista em destaque nesta nossa edição do mês de Maio.

Conversa com Joana Linda

1) Tem sido quase sempre a primeira pergunta. Mas, nestes moldes da revista, achamos importante começar assim: porque é que escolheste filmar a Bárbara Assis Pacheco? 

A Bárbara é minha amiga há vários anos e para além de estimar a sua amizade, claro, aprecio também muito o seu trabalho e a postura dentro do meio artístico. Queria alguém de cujo trabalho gostasse e com o qual me identificasse mas também alguém que habitasse um espaço próprio na criação nacional. A Bárbara vive orgulhosamente à margem das redes sociais, não tem sequer um telemóvel, não se rende nem se deixa seduzir pela modernidade. Vive e trabalha no seu atelier, um espaço fora do tempo, um cabinet de curiosités, como o descreve, uma coleção que se mistura com a sua vida e o seu trabalho. Essa originalidade – que não muda com o politicamente correcto ou pressão da popularidade – interessa-me.

2) Sentes semelhanças entre o teu processo criativo e o da Bárbara?

Sim, a Bárbara fala disso neste vídeo, da forma rápida como as coisas têm de fluir. Um certo imediatismo que não se coaduna com o perfeccionismo mas que tem outras qualidades. Eu também sou assim, mais da possessão do que da razão.

3) Sente-se uma leveza (no bom sentido) em como a Bárbara parece olhar para/ lidar com a sua arte. Não sei se concordas, ou se tens essa mesma leitura…

A Bárbara é livre. Essa leveza vem da liberdade em volta da qual conseguiu construir a sua vida e o seu trabalho – estou sempre a referir estas duas coisas juntas porque no caso da Bárbara acredito que são uma só. Lembro-me muitas vezes de ela me dizer: “não faço encomendas, não insistas, não faço”. Uma regra que só é quebrada quando ela assim o entende e ao serviço de quem a entende. E se esta liberdade subentende um privilégio que não está ao alcance de todos, é acima de tudo uma escolha consciente e um estilo de vida. 

4) O teu vídeo-retrato foi, talvez – pelo menos para nós -, o mais inusitado. No bom sentido. Apesar de já conhecermos trabalhos teus com este tipo de colagem, não estávamos à espera desta execução. O que te deu a ideia destas montagens, trabalhar com ecrã verde e uma atriz a andar por cima das ilustrações da Bárbara?

Pegando na resposta anterior, a vossa proposta, apesar de ser uma encomenda, dava-me liberdade para fazer o vídeo que eu quisesse. Agradeço sempre quando me dão essa liberdade, por isso, obrigado. A escolha da Bárbara enquanto artista retratada também tem a ver com isso, sabia que ela me daria liberdade para fazer o que eu quisesse, sem eu ter de me explicar antes ou depois. Essa confiança é a maior inspiração possível para mim porque o meu método de trabalho implica sempre um grau elevado de risco. Gosto de “inventar” à medida que vou fazendo, um método com o qual nem toda a gente consegue lidar. É um acto criativo que vive do descontrolo, da ausência de balizas e que responde ao espaço, ao tempo (no sentido meteorológico mesmo), às pessoas e emoções do dia. Na verdade, eu não sinto que crio, sinto que evoco coisas. Eu não as faço, não tiro coelhos da cartola, descubro apenas os seus esconderijos. Ou seja, o que fiz neste vídeo para mim está ligado ao imaginário da Bárbara, ao que aquele espaço me evoca sempre que o visito. Nada lhe é externo ou exterior.

5) Como foi o desafio de representar o processo criativo de outra pessoa?

Foi óptimo. Eu fui boazinha para mim, escolhi um artista com quem me identifico e cujo pensamento entendo por isso foi muito fácil. 

6) Sabemos que estás habituada a ser tu a agarrar na câmara, como foi trabalhar aqui em colaboração com um diretor de fotografia (Gonçalo Castelo Soares)?

Na verdade, foi muito simples. Trabalhar sozinho é trabalhar sem rede, à vezes sabe bem ter alguém com quem partilhar responsabilidades. Delegar é fácil quando os outros nos entendem e respeitam as nossas opções. Este trabalho com um director de fotografia que não eu correu muito bem porque o Gonçalo não só consegue corresponder tecnicamente muito bem às minhas ideias como as completa com as suas. Divertimo-nos e ficámos ambos contentes com o resultado final, é o melhor que se pode dizer de um trabalho.Gostava de aproveitar esta pergunta para falar também da Isadora Alves, a actriz que convidei para protagonizar o vídeo. A Isadora também conhece a Bárbara e faz parte da nossa família artística por isso era perfeita. Não foi preciso explicar-lhe nada, ela naturalmente assumiu o papel certo dentro deste espaço. É muito importante trabalhar com pessoas que nos apreciam e nos compreendem.

7) Também tem sido sempre assim que fechamos estas conversas, e contigo não podia ser de outra maneira: qual é a voz que queres ter enquanto realizadora ou realizadora/fotógrafa? 

A minha, sendo que a voz é como o gosto, muda de x em x anos.

BIOGRAFIAS

Bárbara Assis Pacheco

artista retratada

Bárbara Assis Pacheco vive e trabalha em Lisboa. Licenciou-se em Arquitectura (FAUTL, Lisboa) e em Filosofia (FCSHUNL, Lisboa), entre as duas fez Desenho e o Curso Avançado de Artes Plásticas no Ar.Co (Lisboa). Participou na primeira edição do curso de Fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística. Faz desenhos e coisas.


Joana Linda

realização

Realizou as curtas metragens Layla e Lancelot (estreia DocLisboa ‘16) e Em cada Lar Perfeito Um Coração Desfeito (estreia IndieLisboa‘13). Encenou R&J, uma adaptação da peça Romeu e Julieta com um elenco inteiramente feminino (estreia Temps D’Images, 2014). Para além do seu trabalho autoral, trabalha como fotógrafa de cena nas áreas do cinema e artes performativas. Colabora assiduamente com o Teatro do Silêncio e Teatro do Bairro Alto no registo fotográfico e videográfico dos seus espetáculos. Na área da música, realizou inúmeros videoclipes para vários artistas musicais nacionais que também fotografou como parte da promoção e identidade dos seus discos. Participou igualmente em várias exposições de fotografia individuais e coletivas. 

PRODUÇÃO

Jângal Studios

FINANCIAMENTO

Compete 2020 Portugal 2020 fundos europeus

© JANGAL STUDIOS 2022