“Nesta nova etapa da minha vida quero explorar a minha ancestralidade, permitir-me vivê-la e não ter vergonha de a assumir” – Margarida Conceição
Nesta edição, resultado de uma open call aberta a estudantes (ou recém graduados), apresentamos um vídeo-retrato realizado por João Veloso sobre a artista multidisciplinar – tatuadora a full-time – Margarida Conceição.
A artista é retratada dando foco à sua vontade de aceitar, respeitar e abraçar a cultura dos seus antepassados; a cultura ancestral que tem vincada ao seu corpo e que tantas vezes foi motivo para não se sentir aceite.
Margarida Conceição é agora uma criadora com trabalho feito, uma identidade artística bem definida e singular, e quer transbordar este seu empoderamento para que outros artistas se sintam também aceites e tomem um (seu) espaço.
Esta é a edição 07, Margarida Conceição por João Veloso.
Conversa com João Veloso
1) Podias partilhar connosco um pouco do teu percurso académico e profissional? Sendo esta edição fruto de uma open call direccionada para estudantes, achamos importante dar esse enquadramento.
Desde 2014, ano em que comprei a minha primeira máquina fotográfica, que comecei a explorar o gosto por fotografar e filmar. Já tinha terminado o secundário, e pensei em fazer um curso nessa área, mas não tive logo possibilidade. Até que, em 2017, ingressei no curso de operador de câmara e iluminação na ETIC. Após a conclusão do curso, trabalhei com algumas empresas como a OralMed e a BetClic, entre outras. Desde 2019 que trabalho na Universidade Autónoma de Lisboa, como operador de câmara e editor de vídeo, e estou a concluir a licenciatura em Ciências da Comunicação.
2) Porque escolheste filmar a Margarida Conceição?
Escolhi filmar a Margarida, por me identificar com o uso da arte como forma de afirmação da sua ancestralidade e como contraponto à cultura hegemónica de tatuadores brancos e masculinos, para além de ter sido uma das pioneiras da tatuagem contemporânea de autor, em Portugal.
3) Onde foste procurar referências e inspiração para este vídeo-retrato?
Procurei entrevistas antigas da Margarida, entrevistei-a, e fomos conversando bastante sobre o caminho a seguir. Foi um processo de trabalho colaborativo, de forma a que ficasse um retrato próximo da sua realidade. Por outro lado, procurei referências de vídeos com uma proposta semelhante, e shots que pudessem transmitir a sua visão artística.
4) Quando nos enviaste a tua candidatura mencionaste que desde 2014 tens desenvolvido um interesse no registo de vários acontecimentos da cidade de Lisboa, relacionados com causas sociais. Que impacto tem esse interesse na tua criação?
Há uma relação simbiótica no meu interesse em registar protestos e o meu lado artístico. Os rostos, as vozes, os cartazes e as palavras-de-ordem são várias histórias reunidas ao mesmo tempo, no mesmo espaço, que tento dar a conhecer às pessoas, tanto para quem não conseguiu estar presente, como para memória futura. Sinto que contar histórias é o que mais gosto de fazer.
5) Já tinhas tido oportunidade de trabalhar em equipa noutros contextos? Como foi para ti esta experiência de partilhar o processo criativo com outras pessoas?
Sim, já tinha tido oportunidade de trabalhar em equipa noutros projectos, mas como realizador esta foi praticamente a primeira. E foi interessante a troca de ideias e perspectivas com as várias pessoas, desde o som, à pós-produção áudio, passando pela direcção de fotografia, foi uma experiência extremamente enriquecedora.
6) No fim deste processo, o que sentes que retiraste da criação e partilha deste vídeo-retrato?
Ajudou-me a perceber o processo de concepção de um projecto, bem como é dirigi-lo. Para além disto, fez-me ter a certeza que é por aqui que quero seguir: retratar pessoas e trabalhar numa área em que possa ter espaço para criar e expressar-me.
BIOGRAFIAS
Margarida Conceição
artista retratada
Margarida Conceição ou Creating Daisy, como é conhecida, nasceu em Lisboa e é uma artista multidisciplinar que trabalha como tatuadora em full-time. Margarida tem origens portuguesas e macaenses e o seu trabalho é fortemente influenciado pela sua história e cultura, caracterizando-se por um surrealismo asiático, onde a cor prevalece. Em 2018 abriu o seu estúdio de tatuagem em Lisboa, o Flourish.
João Veloso
realização
João Veloso nasceu em 1996, na Amadora. É fotógrafo e videógrafo. Desde 2014 que documenta protestos e atividades ativistas que acontecem na cidade de Lisboa, das mais variadas temáticas: anti-racista, LGBTQIA+, ambiental, feminista, entre outras. Em 2017 ingressou no curso de operador de câmara e iluminação na ETIC, e desde 2018 que trabalha na área do audiovisual.
Participou como operador de câmara em alguns projetos como “Rua dos Lagares” (2017); “O inferno é estar só” (2018); “Casas Quebram Asas” (2020); “Cante pela sua Saúde” (2021) e nos conteúdos multimédia do PICCLE – Plano de Intervenção Cidadãos Competentes em Leitura e Escrita, promovido pelo Plano Nacional de Leitura. Trabalha como operador de câmara e editor de vídeo na Universidade Autónoma de Lisboa, e está a concluir a licenciatura em Ciências da Comunicação.